Universidade e quilombos em diálogo: pesquisa, resistência e futuros coletivos no Marajó

Arquivo do projeto Inovação e transição sustentável: cesta de bens e serviços em territórios Amazônicos e do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União. Julho/2025.

O Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf/UFPA), em parceria com comunidades quilombolas do Marajó, tem desenvolvido ações conjuntas que articulam pesquisa acadêmica, fortalecimento comunitário e valorização de conhecimentos locais.

No dia 05 de julho de 2025, realizou-se o evento “Quilombos e universidade em diálogo: semeando sonhos coletivos”, na Feira Quilombola de Vila União Campina (Salvaterra, PA), como parte do projeto “Inovação e transição sustentável: cesta de bens e serviços em territórios amazônicos”, coordenado, no Pará, pela docente Monique Medeiros (Ineaf/UFPA), membro da BNRGI, no âmbito da Iniciativa Amazônia+10. O encontro contou com a participação do secretário municipal de Meio Ambiente de Salvaterra, Igor Barros, e do representante da comunidade quilombola de Deus Ajude, José Luis Souza de Souza.

Arquivo do projeto Inovação e transição sustentável: cesta de bens e serviços em territórios Amazônicos e do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União. Julho/2025.

Dois momentos marcaram a programação: a devolutiva de pesquisas acadêmicas — com entrega de dissertações e apresentação de resultados parciais do projeto por pesquisadores como Evandro Carlos Costa Neves e Ellen Suane Ferreira Alves — e as apresentações culturais, com desfile da marca coletiva Sementes do Quilombo e performances dos grupos Afrodance (Vila União Campina) e Meninas de Mangueiras (Mangueiras). A atividade reafirmou a importância da presença da universidade nos territórios, reconhecendo a diversidade de conhecimentos e a coletividade como base da produção de saberes.

Arquivo do projeto Inovação e transição sustentável: cesta de bens e serviços em territórios Amazônicos e do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União. Julho/2025.

Arquivos do projeto Climate-Resilient Agroforestry in Quilombola Communities of the Brazilian Amazon e do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União. Setembro/2025.

Poucas semanas depois, em 24 de agosto de 2025, a comunidade quilombola de Vila União Campina sediou a primeira reunião de co-construção do projeto internacional “Climate-Resilient Agroforestry in Quilombola Communities of the Brazilian Amazon,” coordenado por Monique Medeiros e Daniel Palma Perez Braga (Ineaf/UFPA), em parceria com Evandro Carlos Costa Neves (PPGAA/UFPA), as pesquisadoras comunitárias Luciane Lopes e Glenda Leão (NARQ), Gregory Thaler (Universidade de Oxford, co-diretor da BNRGI) e Don R. Nelson (Universidade da Geórgia, co-diretor da BNRGI).

Financiada pelo Instituto Interamericano para la Investigación del Cambio Global (IAI) e pela Universidade de Oxford, a iniciativa busca compreender usos e desafios de manejo dos quintais socioprodutivos, além de identificar estratégias agronômicas, econômicas e políticas que fortaleçam sua resiliência diante das mudanças climáticas. A primeira reunião reuniu 15 mulheres quilombolas, que compartilharam percepções, interesses e expectativas em relação ao futuro dos quintais, refletindo sobre como a pesquisa pode contribuir para sua sustentabilidade frente às alterações no regime de chuvas e ao aumento das temperaturas. Muitas dessas mulheres integram o coletivo que organiza mensalmente a Feira Quilombola, espaço em que são comercializados produtos cultivados nos quintais.

Entre os dias 13 e 20 de setembro, Monique, Evandro e Gregory retornaram à comunidade para aprofundar os diálogos, consolidar estratégias metodológicas e definir eixos de análise do projeto, que seguirá até setembro de 2026. Nesse período, também acompanharam a entrega de produtos do grupo de mulheres da feira ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) de Salvaterra, experiência que evidencia o potencial produtivo dos quintais e sua contribuição para a soberania alimentar local.

Essas ações, articulando universidade e comunidade, mostram como essa cooperação pode fortalecer tradições, promover inovação socioprodutiva e garantir a continuidade de projetos de futuro no Marajó.

Arquivos do projeto Climate-Resilient Agroforestry in Quilombola Communities of the Brazilian Amazon e do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União. Setembro/2025.